O Artista


BODANZKY E A FOTOGRAFIA

A identidade visual do É Tudo Verdade 2011 coloca em destaque a obra fotográfica de Jorge Bodanzky. Mais conhecido por seus documentários de ponta nos anos 1970 e 80, e pelo envolvimento mais recente com o binômio cultura/meio-ambiente, Bodanzky tem, no entanto, uma carreira paralela como fotógrafo que antecedeu e se ombreia com a do cineasta. Quando preparava com ele o livro Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera para a Coleção Aplauso, pude ter uma ideia do volume e da importância de sua produção fotográfica.

A foto de Brasília que deu origem à identidade visual do festival
Jorge entrou no cinema vindo da fotografia, daí sua relação sempre visceral com a câmera. Foi aluno de Luís Humberto, Amélia Toledo e David Drew Zingg. Participou de coletivas e teve uma foto sua na parede da 8ª Bienal de São Paulo (1965), a primeira a integrar uma seção de fotografia. Carregou o crachá de fotógrafo do Jornal da Tarde (SP) e da revista Manchete. Em 1971, ganhou o concurso internacional Asahi-Pentax com uma série de fotos de pescadoras do Rio Grande do Norte.

Uma caixa de fotografias foi o currículo que ele apresentou a Alexander Kluge para estudar na escola de cinema de Ulm, na Alemanha. Já na Amazônia, como fotógrafo da revista Realidade, percebeu na movimentação de prostitutas e camioneiros a semente para Iracema, uma Transa Amazônica. O cinema, então, já o absorvia quase completamente, ficando as fotos fixas como atividade paralela.

Carlos Mattos

Link para o livro: O Homem com a câmera




BREVE HISTÓRICO




Cineasta e fotógrafo, Jorge Bodanzky nasceu em S.Paulo em 1942, filho de pais austríacos.

Cursou a Universidade de Brasília (UnB) e formou-se em cinema na Hochshule für Gestaltung - HFG [Escola Superior da Forma], em Ulm, Alemanha.

Exposição "Brasília" no Festival  de Tiradentes Foto em Pauta 2014.
Fotos expostas no IMS do RJ  na exposição  " Em 1964 ". 
Fotos expostas no Paris Photo 2013 ,  pelo IMS . 
Maio da fotografia no MIS de SP 2016 exposição "No meio do rio entre as árvores"

Em 2013 o acervo fotográfico analógico  é adquirido pelo IMS ( Instituto Moreira Sales)

Em 2011 é homenageado no primeiro número da Revista Zum (Instituto Moreira Salles), num longo ensaio, com 23 páginas de fotos suas e também com foto para o cartaz da revista.

São dele as fotos para o cartaz , a animação e o catálogo do Festival Internacional de Cinema É tudo Verdade, em 2011 Tem fotos suas publicadas no livro Fotografia no Brasil, Funarte 2004 Ilustra, com suas fotos, o livro de Betty Milan Os Bastidores do Carnaval, em 1980.

Trabalha na Agência Maitiry, com Fernando Lemos e Audálio Dantas, em 1970.

De volta ao Brasil, após concluir seu curso, trabalha como repórter fotográfico da Revista Realidade em 1968 e 1969.

Na Alemanha, é fotógrafo do jornal Ulmer Donauzeitung, em 1966.

Com o golpe militar e o fechamento da UNB, vai em 1966 para a Alemanha, estudar  na  HFG , Escola de Design  de Ulm.

É contratado como repórter fotográfico da revista Manchete e dos periódicos Jornal da Tarde e Estado de São Paulo Recebe o primeiro lugar no Prêmio Internacional Asahipentax, em 1971.

Participa com fotos de uma exposição coletiva na Galeria Astréia, em São Paulo, em 1977, com Fernando Lemos, Jorge Torok e outros.

Em 1965 é selecionado para a 8a Bienal de São Paulo.
Tem fotos publicadas na revista IRIS.

Publica fotos no Correio Brasiliense e faz a capa de um livro de poemas de Santiago Naud.

Em 1965 vai para Brasília, onde presta vestibular para arquitetura na UNB, estudando no Instituto Central de Artes, sendo aluno de Amélia Toledo, Luiz Humberto, Heins Fhortmann e Athos Bulcão, entre outros.


contato: jorgebodanzky@gmail.com




BRASÍLIA, 1964: AS FOTOS CAMINHAM PARA O CINEMA.

Talvez seja possível resumir (como uma fotografia resume um processo) assim: quando ajudou a criar o laboratório da Universidade de Brasília, Jorge Bodanzky queria chegar ao cinema. Dois anos mais tarde, com fotos de Brasília na bagagem, apresentou-se para estudar na Alemanha com Alexander Kluge ("as fotos passaram de mão em mão, e Kluge me perguntou se eu fazia câmera de cinema. Eu disse que ainda não, mas que gostaria de fazer").






JUAZEIRO DO NORTE, 1969: AS FOTOS RETORNAM DO CINEMA.


Talvez seja possível imaginar (como quem está fora do quadro) assim: o filme Visão de Juazeiro, de Eduardo Escorel, sobre a Romaria do padre Cícero, é tanto o que foi registrado pela câmera de cinema quanto um rascunho para as fotos que Bodanzky fez nos intervalos da filmagem. O preto e branco de O profeta da fome, de Maurice Capovilla e de Compasso de espera, de Antunes Filho, feitos pouco antes, pode ser visto como o olhar de Brasília aprimorado na Alemanha, quando refotografou os negativos para aumentar o contraste e acentuar o rigor. O colorido de Juazeiro pode ser visto como a projeção de um olhar que amadureceu ali mesmo - porque a realidade despencou sobre Bodanzky com a mesma intensidade com que ele mergulha nela para filmar um documentário. Em Brasília, preto e branco bem ordenado. Em Juazeiro, colorido desembestado.Na composição que descobre - não destaca, mas descobre - o fotógrafo que se volta para o fotógrafo que o fotografa, Bodanzkypropõe um gesto inspirado pelo tema da foto. A festa dos romeiros não é só assunto, é também um modo de fotografar.


SÃO PAULO, 1970: AS FOTOS VOAM PARA O CINEMA.

Talvez seja possível (como quem trabalha o negativo para obter determinada textura) assim: o vidro do helicóptero é o mesmo do carro de Brasília e do caminhão de Juazeiro. E o fotógrafo está de olho no vidro, numa imagem capaz de contar uma história tal como se conta uma história no cinema. Nestas páginas, o instante em que Bodanzky descobre o cinema por meio da fotografia, redescobre a fotografia por meio do cinema e se dá conta de que poderia optar por uma coisa e outra. Quando, em 1974, dirige Iracema, uma transa amazônica, ele se serve de uma estrutura fotográfica. No centro da história, um traço reto e vazio corta a floresta: as fotos de Brasília refotografadas pela câmera de Juazeiro com os pés no chão, atenta aos que vivem à margem da estrada.  

José Carlos Avellar